10 setembro, 2012

Fechado.
- Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? 
- A gente sente um pouco de medo mas não dói. 
- A gente não morre? 
- A gente morre um pouco em cada poço. 
- E não dói? 
- Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.

Caio, filho da Puta.

.. Que podia sentir, e que sentia enfim, agora que já não havia cheiros nem formas nem gostos nem ruídos — era o contato como da mão daquele homem que ficara comigo enquanto eu partia e tornava a partir sem volta e para sempre de mim. Foi se apagando, certa luz.
Até que meus dedos finalmente mortos e rígidos se desprendessem dos dedos vivos dele, e sem a mão e mais ninguém dentro da minha eu fosse chegando aos poucos mais perto, quase dentro deste outro lado, deste outro espaço, deste outro tempo onde estou agora. E não me reconheço, sem facas nem becos. Já não éramos três, nem dois, homens nem corpos. Eu era um só, depois eu era um eu sem eu.
Eu era nenhum: navio no ar, depois do aço.
quantas vidas precisam ser vividas? quantas situações precisão acontecer? quanto se precisa sangrar pra entender que sua força é incapaz perante a da faca?
quantos gritos precisam ser dados até que alguem escute?
quantas palavras precisam ser ditas e desmentidas em atos seguintes?

"Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras ao vento.."

quantos ouvidos e memorias precisam ser marcadas até que o entendimento coincida com a aceitaçao?
Será que a quantidade de caminhos turbulentos é igual a quantidade de chegadas compensatórias?
Será que algum dia as tuas ideias corresponderão aos fatos?
Me procuro lenta
Nos teus escuros.
Como te chamas, breu?
Tempo.

(Hilda Hilst: Da Morte, Odes Mínimas) 

"No homem havia umidade quando estava seco, havia calor quando estava frio, no homem havia tudo o que precisava e um dia tivera e o que se fora para sempre e o que não voltaria nunca mais a ser. 
(...)
Mas com o dia avançando, as sombras ampliavam a presença do homem pela casa inteira. Essa sombra se infiltrando devagar em cada quarto jogava no rosto de cada um tudo aquilo que não haviam sido, que não haviam feito, tudo aquilo que tinham apenas ameaçado ser."

07 setembro, 2012

Mário Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..
e a cada dia que passa, me convenço mais de que Fernando Pessoa poucas vezes teve tanta verdade no que dizia quando afirmou: Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
- Martha Medeiros

05 setembro, 2012

Dos encontros e reencontros, ficam os arrepios
Mas o passado tem carisma. E as lembranças têm sabores. 

02 setembro, 2012


Tão arrogantes: quem tem, afinal, o poder de salvar o outro de seus próprios abismos? 
— Caio Fernando Abreu

Dá vontade de amar. De amar de um jeito “certo”, que a gente não tem a menor idéia de qual poderia ser, se é que existe um. 
— Caio Fernando Abreu
É preciso cuidado com o arisco, senão ele foge. É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo. Cada movimento em direção a ele é tão absolutamente lento que o tempo fica meio abolido. Não há tempo. Um bicho arisco vive dentro de uma espécie de eternidade. Duma ilusão de eternidade. Onde ele pode ficar parado para sempre, mastigando o eterno. Para não assustá-lo, para tê-lo dentro dos seus dedos quando eles finalmente se fecharem, você também precisa estar dentro dessa ilusão do eterno.
 — Caio Fernando Abreu
- Tem que ser assim. Saber o que quer e ir a luta.
- Mas ai são três coisas muito difíceis: saber o que quer, ir a luta e todo mundo ser igual.
o amor na prática é sempre ao contrario.
Teu pão, tua comida, algum remédio anti monotonia (...)

01 setembro, 2012

Mas a duvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza (...)
Enquanto isso, eu pago os meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez.
Pensei que era liberdade, mas era as grades da prisão.
Pensei que era liberdade, mas era só solidão.

31 agosto, 2012


Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver.
Se é assim quero sim! Acho que vim pra te ver.

Cheguei ao mundo sem ter nada
E dele não levo nem a sombra
Eu tô aqui pra dar risada
E para tirar onda.
Felicidade não se empresta
Não se pechincha e não se compra
Eu tô aqui pra fazer festa
E pra tirar onda.
Eu tiro onda pra onda não me tirar
Eu tiro onda pra onda não me afogar.

25 agosto, 2012

Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. (...) É aceitar doer inteiro até florir de novo. 
“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista, elitista, capitalista. Só queria ser feliz, cara.”
Você não me ouve nem vê, e se ouvisse e visse não compreenderia quando eu abrir os braços para Ela e saudar, amável e desesperado como quem dá boas-vindas ao terror consentido: voragem, bem-vinda.
Voragem, vórtice, vertigem: ego. Farpas e trapos. Quero um solo de guitarra rasgando a madrugada. Te espero aqui onde estou, abismo, no centro do furacão. 
mas quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para bem mais longe que o horizonte, que não se vê nunca daqui ..
A solidão brinca com o tempo.
As horas passam se arrastando lentamente, tanto no relógio quanto na alma.
E as piscadas de olho, inevitáveis aos seres humanos, vão se tornando armadilhas das quais somente a eterna vigilância pode evitar.
Nelas, é como se o subconsciente forjasse as cenas que o consciente já não se permite mais.
Uma piscada e, como magica, as coisas desejas nos cantos desejados. 
Descuido.
Uma outra piscada e pronto, cores mortas, carnes frias. A realidade nunca pele licença, ela invade porta à dentro..
É preciso está atento, meu bem. Sempre atento.
Mas você me pergunta como. Como enxergar ao mesmo tempo, com duas visões altamente distintas.
E eu te respondo com outra pergunta: O que é mais forte? O natural ou construído? 
Nunca soube.
E de que adianta saber? de que te adianta ser ou ter? No final das piscadas, dos sonhos e das histórias doces, cabe a mim mesma decidir que parte amputar.
Autonomia geralmente não há. Nem pra mim, nem pra ti e nem pro tempo.

24 agosto, 2012

e peço: por favor, me socorre, me socorre que hoje estou sentido e português, lusitano e melancólico. Me ajuda que hoje tenho certeza absoluta que já fui Pessoa ou Virginia Woolf em outras vidas, e filósofo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encostar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviado de por um instante não ser mais eu, que hoje e não me suporto nem me perdôo de ser como sou e não ter solução. 
Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir..
A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando...
"gostar” sendo aqui mera maneira de dizer: ciclo seco não gosta nem desgosta de nada, só acha árido, até beijo em ciclo seco tem gosto de areia..
Ciclo seco é chato, sim. E implicante. Isso que por falta de espaço, hoje nem entrei nos méritos do tal “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Reflitam no absurdo. Se não molhar um pouco este meu ciclo seco, para desgosto geral volto ao tema. Mas há de chover. Em abril.

mantra:


Agora não dá mesmo para ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque para viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado para trás, cai. Dói, eu sei como dói. Mas passa. Está vendo a felicidade ali na frente? Não, você não está vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la para trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

Caio Fernando Abreu

e ele calmamente repete:

- Nunca, jamais diga o que sente. Por mais que te doa, por mais que te faça feliz.
Quando sentir algo muito forte, peça um drink.
- Garçom, uma vodka dupla e sem gelo.
E não sei o que dizer, Zézinho, não tô bem. Isso é uma coisa que eu posso dizer, tendo certeza dela. Mas é também uma coisa pela qual você não pode fazer
nada, e de pouco adianta eu dizer. Ô, Zé, ando tão desorientado e

me escondo, e não procuro ninguém, e fico mastigando a minha desorientação (...)
Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto. Leio o tempo todo. Sento no jardim.
Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Descobri John dos Passos, mas não é suficiente pra encher esse 
oco (...) Mas tomo copos de leite, durmo bastante, e repito sempre que, seja o que for, vou sair desta pelo menos mais sadiozinho. Deve ter algum processo em andamento dentro de mim, querendo explodir de alguma forma. Ou esse desgosto é já um jeito de ser? Se for assim, não quero acostumar. Se quatro anos de análise não deram jeito nele, quem dá? (...)
me sinto como uma coluna vertebral sem uma vértebra,
portanto insustentável. Daí vou pensando um pouco mais nisso e então me dói 
mais fundo, porque me parece irremediável, inconsertável(...)
Mas não sei se consigo me reduzir assim, a um simples
esquema ideológico. E mesmo que conseguisse: o que vem depois?
Gosto tanto de você. (...)
Mando pra você:
“É demais ter dois olhos. Só à noite, às vezes,
pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite
tornemos sempre a refazer a jornada que
penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro?"
(...)
E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bem vinda. 


- O sol já foi embora.
- A estrada escureceu.
- Mas navegamos.

(...)
- Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
- Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
- Vamos nos ver?
- No teu chá. No meu chá.

(...)
- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.

23 agosto, 2012

Hoje é meu dia de gente. Hoje é proibido dormir
Hoje é meu dia de gente. Até o amanhecer, quero estar com você.

Errando enquanto tempo me deixar
Errando enquanto o tempo me deixar...
Nada sei desse mar, nado sem saber
De seus peixes, suas perdas .. De seu não respirar...

22 agosto, 2012

Nem tudo lhe cai bem, é o risco que se assumi. O bom é não iludir ninguém (...)
Um dia eu volto pra fazer só a sua vontade, mas se eu nao puder fazer de você a pessoa mais feliz, eu chego o mais perto disso possível.
Todos os inconvenientes ao nosso favor e diferenças sim, mas nunca maiores do que o nosso valor.

17 agosto, 2012



"Cença aqui patrão, eu cresci no mundão, onde o filho chora e a mãe não vê
E covarde são, quem tem tudo de bom, e fornece o mal, pra favela morrer
Uns acham que são, mas nunca vão ser ...
Feio é arrastar e nem perceber!"

"Acostumado com sucrilhos no prato, né, moleque? 
Enquanto o colarinho branco dá o golpe no Estado"



"Se é pra paz a naçao já está armada. De consciência a alma já tá elevada.

 Nao baixe a guarda, a luta nao acabou."

"Pode colar, mas sem arrastar. Se arrastar, favela vai cobrar ... "

"Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz. Sou assim e sou feliz, Índio, caboclo, cafuso, criolo! Sou brasileiro."




15 agosto, 2012

Nada a te oferecer, exceto eu mesmo
Nada a te pedir, exceto que sejas quem tu és
A verdade é o que temos de melhor
para compartilhar um com o outro

Tuas coisas continuam tuas
e as minhas, minhas
Não nos mudaremos na loucura de tornar eterno
esse breve instante que passa.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor; apenas porque te estendo a minha mão.

11 agosto, 2012

E seria possível voltar a um estágio anterior, já disperso em inúmeras passagens através de outros e outros estágios? 
Pois se já experimentara a maldade, a devassidão, a frieza, o cálculo, o vício, o cinismo, a agressão e experimentara não como formas de ser, nem como opções. Experimentá-los tinha sido simplesmente ser o que o caminho exigia que se fosse.

10 agosto, 2012

Você tem exatamente um segundo pra aprender a me amar. Você tem a vida inteira, baby, pra me devorar.

09 agosto, 2012

Abandonado caos perdido na multidão. A solidão no coração de alguem (...)

Martha.

Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam, de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e, sim, para disfarçá-la, sufocá-la. Ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

07 agosto, 2012

Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros
- Thiago de Mello
- “Companheiros, vocês ouviram falar do homem novo e da mulher nova?” 
- O homem novo e a mulher nova esta no futuro, pois é aquele que queremos formar com a nova sociedade, quando triunfar a revolução...”. 
E ficou olhando para nós... 
- “Não, irmãos, sabem onde está...? Está lá na beira, na ponta do morro que estamos subindo... está lá, peguem-no, encontrem-no, busquem-no, consigam-no. O homem novo e a mulher nova está além de onde está além da fome, além da chuva, além dos borrachudos, além da solidão. Está ali, no esforço a mais. Está ali onde o homem  e a mulher normal começa a dar mais do que o homem e a mulher normal. Onde o homem e a mulher começa a dar mais que o comum dos homens e das mulheres. Quando começa a negar a si mesmo... Ali está o homem novo e a mulher nova. Então, se estão cansados, se estão arrebentados, esqueçam-se disso, subam o morro e quando chegarem lá terão um pedacinho do homem novo e da nova mulher (...) De modo que, se não estão em férias e se, de verdade, querem ser homens novos e mulheres novas, alcancem-no e alcancem-na...”. 

(Como sei pouco e sou pouco, faço o pouco que me cabe, me dando inteiro.)

Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando.

04 agosto, 2012

minha flor, minha cara:


Não sei se o mundo é bom mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou: Tem lugar pra mim?
Não sei se esse mundo é bom mas ele está melhor
Porque que você chegou e explicou o mundo pra mim.

e desistir, ainda que nao pareça, as vezes é um grande gesto de coragem.

04.


Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.

02 agosto, 2012



Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem.
É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente “ah!”, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Era só isso que eu queria da vida
Uma cerveja, uma ilusão atrevida
Que me dissesse uma verdade chinesa
Com uma intenção de um beijo doce na boca...

01 agosto, 2012


Os seus olhos são espelhos d'água,brilhando você prá qualquer um.
Por onde esse amor andava que não quis você de jeito algum? Ah que vontade de ter você. Que vontade de perguntar se ainda é cedo.                                             Hum! Que vontade de merecer um cantinho do seu olhar, mas tenho medo...
Cacique perdeu, mas lutou que eu vi.

30 julho, 2012

Mente ao meu coração que cansado de sofrer
Só deseja adormecer na palma da tua mãoMente ao meu coração, mentiras cor-de-rosa 
Que as mentiras de amor não deixam cicatrizes (...)

29 julho, 2012

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Porque ninguem vai dormir nossos sonhos.
Minha cara, pra quê tantos planos? Se quero te amar, e te amar, muitos anos.
Tantas vezes eu quis ficar solto, como se fosse uma lua a brincar no teu rosto (...)
Você não vai me acertar a queima roupa.
Vem cá, me deixa fugir. Me beija a boca.

28 julho, 2012

Mas nu e só ao meio dia
so quem está pronto pro amor.

você não muda mesmo.. sempre se despede como se não fosse voltar, e volta como se não tivesse se despedido.

Martha M.


... Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.
No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).
Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.
No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.

Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.

Hoje pensei sério: se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder. Quero tudo. Mas esse “tudo” é tão grande, tão vago, que me sinto estonteado. É preciso ir limitando meu sonho, apagando a linha supérflua, corrigindo  as arestas, até restar somente o centro, o âmago, a essência. Mas qual será esse centro, meu Deus, que não encontro?

25 julho, 2012


É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra.
A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.
A gente pensa que escolhe.
Se a gente nao sabe, inventa.

com a companhia de um cigarro:

Sei, sim. Não é de repente, é mais aos pouquinhos que acontece. Difícil explicar, mas vai dando uma coisa de você não ver mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão. Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático e, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo – bem, para mim é porque está na hora de dar o fora. Aí a gente muda. Se não dá para mudar de cidade, muda de casa, muda de rua, de bairro (cá entre nós: massa mesmo seria poder mudar de planeta). Não há nada mais estimulante do que ver ruas e pessoas pela primeira vez. Você tem que fazer um superexercício para conseguir descobrir os jeitos particulares delas se comunicarem – sim, porque tudo isso tem um jeitinho particular. Você é novo. A maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.

23 julho, 2012

Quero mais um uísque, outra carreira. Tudo aos poucos vira dia e a vida - ah, a vida - pode ser medo e mel quando você se entrega e vê, mesmo de longe. 
Não, não quero nem preciso nada se você me tocar. Estendo a mão. 
Depois suspiro, gelado. E te abandono.
Passou-se muito tempo. Vai amanhecer. O frio aumentou. O bar está meio vazio, quase fechando. Debruçado na caixa, o dono dorme. Gastei quase todas as minhas fichas: tudo é blues, azul e dor mansinha. Só me resta uma, que vou jogar certeiro em Tom Waits. Me preparo. Então - enquanto os garçons amontoam cadeiras em cima das mesas vazias, um pouco irritados comigo, que a tudo invento e alimento, e com esses dois caras estranhos, parecem dois veados de mãos dadas, perdidamente apaixonados por alguém que não é o outro, mas poderia ser, se ousassem tanto e não tivessem que partir - o homem segura com mais força nas duas mãos do rapaz mais triste do mundo. As quatro mãos se apertam, se aquecem, se misturam, se confortam. Não negro monstro marinho viscoso, vômito na manhã. Mas sim branca estrela do mar. Pentáculo, madrepérola. Ostra entreaberta exibindo a negra pérola arrancada da noite e da doença, puro blues. E diz, o homem diz: 
- Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num sZ, esse é o eterno.

15 julho, 2012


Eu cansei de ser assim. Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir?
A vida vai seguir. Ninguém vai reparar, aqui neste lugar
Eu acho que acabou, mas vou cantar
Pra não cair fingindo ser alguém que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi, só resta eu me entregar
Cansei de procurar o pouco que sobrou
Eu tinha algum amor. Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó e a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia manda essa cavalaria
Que hoje a fé me abandonou

12 julho, 2012


E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. -


Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. -

11 julho, 2012


Mas não é verdade, Hilda, não é verdade que as pessoas se repitam. O que se repetem são as situações, inúmeras vezes — e você sabe que qualquer situação que nos acontece é por nossa culpa. Principalmente quando ela se repete muitas vezes. Tudo o que acontece à gente é uma mera conseqüência daquilo que se fez. 

O nó da tua orelha ainda dói em mim (...)
"Tu poderias me dizer como posso sair daqui? - perguntou Alice.
Isso depende do lugar pra onde queres ir - disse o Gato.
Ora, pra mim tanto faz pra onde ir... - disse Alice.
Então, também tanto faz como sair daqui - disse o Gato.
oh, e chegarás com certeza, se andares o tempo suficiente. -Afirmou o Gato."

08 julho, 2012


Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta (...)
E para seu próprio bem, guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido

'E minha mão esquerda tocava uma ausência sobre a cama.'

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias.

04 julho, 2012

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,Ou nada sei
(...)

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
(...)
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada 
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou.
Estrada eu sou.

01 julho, 2012

"Nessa estrada quero achar gente doce, límpida, verdadeira e disposta. Quero topar com luz, desapego e paz."

29 junho, 2012

Morre lentamente quem não tem coragem de virar a mesa quando está infeliz (...) Quem não arrisca.

Quero uma primeira vez outra vez. Um primeiro beijo, uma primeira caminhada por uma nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter sensações inéditas até o fim dos meu dias.






o imperador:

O conselho emitido pelo Tarot vem através da imagem do arcano IV, chamado “O Imperador”, cuja imagem nos revela uma figura masculina solidamente colocada, irradiando poder e autoridade. O pedido do arcano IV é o da importância de reconhecer a própria força e não depender demais de ninguém. Sempre que dependemos do outro, o outro pode falhar conosco eventualmente e qualquer felicidade excessivamente buscada fora de nós é absolutamente temporária. Procure, neste momento, cultivar a referência do seu próprio poder pessoal e não se deixe levar demais pelos conselhos alheios. Reconheça, em si, a autoridade para comandar sua própria vida.
Conselho: Seja mais independente neste momento.
De onde vem o jeito tão sem defeito?
Que esse rapaz consegue fingir.
Olha esse sorriso tão impreciso?

Tá se exibindo pra solidão.

27 junho, 2012

Eu devo reconhecer que ninguém me conhece. Não realmente. Os que mais sabem não sabem da metade. Não deixo todos os segredos escaparem de mim, não mesmo.
 nossas exatidões não funcionam numa conta de mais…
“Ninguém sabe direito o que é felicidade, mas, definitivamente, não é acomodação.
Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático. Muito seguro, mas que aborrecimento. É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir alguma coisa, nem que seja medo.” 



- Martha Medeiros.

Não consigo pertencer ou me adaptar. Falha minha. Meu único planejamento é não planejar. Porque o momento em que eu sei exatamente o que fazer ou onde ir é o mesmo momento em que tento, desesperadamante, fazer o oposto. Talvez eu apenas goste de contrariar e negar o que dizem ser certo. Talvez seja coisa de menina mimada (...)
Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece.
Como diz um velho ditado chinês: ‘perderá os pombos das mãos se tentar pegar os que estão voando’.

26 junho, 2012

Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita. Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.

Não há uma verdade única. Há uma verdade por dia, ou pior ainda, mais complicado: uma verdade por hora, a vezes até mil verdades num minuto. Quando a gente hesita em fazer e não fazer determinada coisa, esse debate no meio de conceitos encravados no cérebro, no meio de idéias próprias e alheias, recusa-se aceitações — labirintos de verdades que não mostram as faces mesmo depois do ato feito. 

14 junho, 2012

"É tempo de me fazer, eu sei."
(...) Percebi que nessa vida as coisas nos acontecem para que possamos
saber que tudo é experiência e aprendizado
e que também não vale a pena fingir um equilíbrio que não se tem..


A gente tem que descobrir maneiras, sejam quais forem, de ficarmos fortes.
Ela sempre fez o que quis. Mas não com… Com agressividade, entende? 
Quero dizer, ela está sempre tão dentro dela mesma que qualquer coisa que faça não é nem certa nem errada. É simplesmente o que ela podia fazer. 
Aquele menino trazia na testa a marca inconfundível: pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que. Não sei se na esperança de decifrá-las ou apenas pelo prazer de mergulhar.
Essas são as escolhidas — 
as que vão ao fundo, 
ainda que fiquem por lá.

- Caio F.

Acho que a gente tem que vencer. Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer. Se mexer (...) Não suporto o fracasso deliberado, não suporto a covardia. É meio cruel, mas não suporto.


- Caio F.
Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram.

10 junho, 2012


Um telefone ao alcance da mão, um número decorado na cabeça e uma aflição no coração. É aí que mora o perigo.


E de tudo isso eu aprendi que se entregar de corpo e alma à uma pessoa não é o suficiente pra faze-la feliz. Queria acreditar que como em filmes no final tudo daria certo, mas preciso de motivos ...
Pois repito, aquilo que eu supunha fosse o caminho do inferno está juncado de anjos. Aquilo que suja treva parecia guarda seu fio de luz. Nesse fio estreito, esticado feito corda bamba, nos equilibramos todos. Sombrinha erguida bem alto, pé ante pé, bailarinos destemidos do fim deste milênio pairando sobre o abismo.
Lá embaixo, uma rede de asas ampara nossa queda.

09 junho, 2012


E há tempos
Nem os santos têm ao certo a medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços a quem procura
Abrigo e proteção...
Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa...

Queria que você gostasse de mim por mim. Caótico, distraído, perigosamente despreocupado. Meio despenteado, tão preocupado com coisas vagas. Queria que você também se encantasse com minhas imperfeições.


Quando ameaça doer demais … Ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca sentido.

E outra coisa – não se esforce. Pelo menos, não tanto. Não fique ai remando contra a maré, dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir além. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais, que tenha argumentos melhores.

— Quem não procura, não sente falta, moço.
— Engano seu, pequena.

— E o que a gente vira quando vai embora de alguém?
E o Senhô respondeu:
— Uns viram pó. Outros caem igual estrela do céu. Outro só viram a esquina… E têm aqueles que nunca vão embora.
— Não? E eles ficam onde, Senhô?
— Na lembrança.

Proibido (…) passear por sentimentos desesperados de cabeça para baixo, proibido emoções cálidas, angústias fúteis, fantasias mórbidas e memórias inúteis.

mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer,
Nunca me conformei com o fim de nada. Por mais que eu sentisse que era a hora. Por mais que eu quisesse ou precisasse me livrar das coisas.  O “acabou” sempre chega ou chegou como se eu jamais tivesse parado pra pensar nele. Cruel, terrível e doloroso além de mim.

03 junho, 2012

Seria bonito se, quando eu pensasse em parar, o telefone tocasse. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falasse meu nome, uma voz quente repetisse que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar.
Seria bonito, e coisas bonitas não acontessem mais.

Não há nada de errado em, de vez em quando, chorar e pedir para Deus que nos coloque no colo.

Sri Lanka, quem sabe? ela me pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável ela continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade?
 Mas, quando os olhos de um esbarram nos olhos do outro, são de criança assustada esses olhos. Cão batido, rabo entre as pernas. Mastigamos em silêncio as chicotadas sobre nossas costas. E os corações de vidro pintado estalam ainda mais alto que as ondas quebrando contra as pedras ..
A vida não é apagável, pensei. Nem volta atrás. Ainda não construíram a máquina do tempo. Ninguém virá em meu socorro. Faz tanto tempo que invento meus próprios dias..
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado, sem Maria ...