31 agosto, 2012


Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver.
Se é assim quero sim! Acho que vim pra te ver.

Cheguei ao mundo sem ter nada
E dele não levo nem a sombra
Eu tô aqui pra dar risada
E para tirar onda.
Felicidade não se empresta
Não se pechincha e não se compra
Eu tô aqui pra fazer festa
E pra tirar onda.
Eu tiro onda pra onda não me tirar
Eu tiro onda pra onda não me afogar.

25 agosto, 2012

Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. (...) É aceitar doer inteiro até florir de novo. 
“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista, elitista, capitalista. Só queria ser feliz, cara.”
Você não me ouve nem vê, e se ouvisse e visse não compreenderia quando eu abrir os braços para Ela e saudar, amável e desesperado como quem dá boas-vindas ao terror consentido: voragem, bem-vinda.
Voragem, vórtice, vertigem: ego. Farpas e trapos. Quero um solo de guitarra rasgando a madrugada. Te espero aqui onde estou, abismo, no centro do furacão. 
mas quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para bem mais longe que o horizonte, que não se vê nunca daqui ..
A solidão brinca com o tempo.
As horas passam se arrastando lentamente, tanto no relógio quanto na alma.
E as piscadas de olho, inevitáveis aos seres humanos, vão se tornando armadilhas das quais somente a eterna vigilância pode evitar.
Nelas, é como se o subconsciente forjasse as cenas que o consciente já não se permite mais.
Uma piscada e, como magica, as coisas desejas nos cantos desejados. 
Descuido.
Uma outra piscada e pronto, cores mortas, carnes frias. A realidade nunca pele licença, ela invade porta à dentro..
É preciso está atento, meu bem. Sempre atento.
Mas você me pergunta como. Como enxergar ao mesmo tempo, com duas visões altamente distintas.
E eu te respondo com outra pergunta: O que é mais forte? O natural ou construído? 
Nunca soube.
E de que adianta saber? de que te adianta ser ou ter? No final das piscadas, dos sonhos e das histórias doces, cabe a mim mesma decidir que parte amputar.
Autonomia geralmente não há. Nem pra mim, nem pra ti e nem pro tempo.

24 agosto, 2012

e peço: por favor, me socorre, me socorre que hoje estou sentido e português, lusitano e melancólico. Me ajuda que hoje tenho certeza absoluta que já fui Pessoa ou Virginia Woolf em outras vidas, e filósofo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encostar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviado de por um instante não ser mais eu, que hoje e não me suporto nem me perdôo de ser como sou e não ter solução. 
Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir..
A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando...
"gostar” sendo aqui mera maneira de dizer: ciclo seco não gosta nem desgosta de nada, só acha árido, até beijo em ciclo seco tem gosto de areia..
Ciclo seco é chato, sim. E implicante. Isso que por falta de espaço, hoje nem entrei nos méritos do tal “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Reflitam no absurdo. Se não molhar um pouco este meu ciclo seco, para desgosto geral volto ao tema. Mas há de chover. Em abril.

mantra:


Agora não dá mesmo para ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque para viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado para trás, cai. Dói, eu sei como dói. Mas passa. Está vendo a felicidade ali na frente? Não, você não está vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la para trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

Caio Fernando Abreu

e ele calmamente repete:

- Nunca, jamais diga o que sente. Por mais que te doa, por mais que te faça feliz.
Quando sentir algo muito forte, peça um drink.
- Garçom, uma vodka dupla e sem gelo.
E não sei o que dizer, Zézinho, não tô bem. Isso é uma coisa que eu posso dizer, tendo certeza dela. Mas é também uma coisa pela qual você não pode fazer
nada, e de pouco adianta eu dizer. Ô, Zé, ando tão desorientado e

me escondo, e não procuro ninguém, e fico mastigando a minha desorientação (...)
Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto. Leio o tempo todo. Sento no jardim.
Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Descobri John dos Passos, mas não é suficiente pra encher esse 
oco (...) Mas tomo copos de leite, durmo bastante, e repito sempre que, seja o que for, vou sair desta pelo menos mais sadiozinho. Deve ter algum processo em andamento dentro de mim, querendo explodir de alguma forma. Ou esse desgosto é já um jeito de ser? Se for assim, não quero acostumar. Se quatro anos de análise não deram jeito nele, quem dá? (...)
me sinto como uma coluna vertebral sem uma vértebra,
portanto insustentável. Daí vou pensando um pouco mais nisso e então me dói 
mais fundo, porque me parece irremediável, inconsertável(...)
Mas não sei se consigo me reduzir assim, a um simples
esquema ideológico. E mesmo que conseguisse: o que vem depois?
Gosto tanto de você. (...)
Mando pra você:
“É demais ter dois olhos. Só à noite, às vezes,
pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite
tornemos sempre a refazer a jornada que
penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro?"
(...)
E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bem vinda. 


- O sol já foi embora.
- A estrada escureceu.
- Mas navegamos.

(...)
- Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
- Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
- Vamos nos ver?
- No teu chá. No meu chá.

(...)
- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.

23 agosto, 2012

Hoje é meu dia de gente. Hoje é proibido dormir
Hoje é meu dia de gente. Até o amanhecer, quero estar com você.

Errando enquanto tempo me deixar
Errando enquanto o tempo me deixar...
Nada sei desse mar, nado sem saber
De seus peixes, suas perdas .. De seu não respirar...

22 agosto, 2012

Nem tudo lhe cai bem, é o risco que se assumi. O bom é não iludir ninguém (...)
Um dia eu volto pra fazer só a sua vontade, mas se eu nao puder fazer de você a pessoa mais feliz, eu chego o mais perto disso possível.
Todos os inconvenientes ao nosso favor e diferenças sim, mas nunca maiores do que o nosso valor.

17 agosto, 2012



"Cença aqui patrão, eu cresci no mundão, onde o filho chora e a mãe não vê
E covarde são, quem tem tudo de bom, e fornece o mal, pra favela morrer
Uns acham que são, mas nunca vão ser ...
Feio é arrastar e nem perceber!"

"Acostumado com sucrilhos no prato, né, moleque? 
Enquanto o colarinho branco dá o golpe no Estado"



"Se é pra paz a naçao já está armada. De consciência a alma já tá elevada.

 Nao baixe a guarda, a luta nao acabou."

"Pode colar, mas sem arrastar. Se arrastar, favela vai cobrar ... "

"Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz. Sou assim e sou feliz, Índio, caboclo, cafuso, criolo! Sou brasileiro."




15 agosto, 2012

Nada a te oferecer, exceto eu mesmo
Nada a te pedir, exceto que sejas quem tu és
A verdade é o que temos de melhor
para compartilhar um com o outro

Tuas coisas continuam tuas
e as minhas, minhas
Não nos mudaremos na loucura de tornar eterno
esse breve instante que passa.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor; apenas porque te estendo a minha mão.

11 agosto, 2012

E seria possível voltar a um estágio anterior, já disperso em inúmeras passagens através de outros e outros estágios? 
Pois se já experimentara a maldade, a devassidão, a frieza, o cálculo, o vício, o cinismo, a agressão e experimentara não como formas de ser, nem como opções. Experimentá-los tinha sido simplesmente ser o que o caminho exigia que se fosse.

10 agosto, 2012

Você tem exatamente um segundo pra aprender a me amar. Você tem a vida inteira, baby, pra me devorar.

09 agosto, 2012

Abandonado caos perdido na multidão. A solidão no coração de alguem (...)

Martha.

Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam, de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e, sim, para disfarçá-la, sufocá-la. Ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

07 agosto, 2012

Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros
- Thiago de Mello
- “Companheiros, vocês ouviram falar do homem novo e da mulher nova?” 
- O homem novo e a mulher nova esta no futuro, pois é aquele que queremos formar com a nova sociedade, quando triunfar a revolução...”. 
E ficou olhando para nós... 
- “Não, irmãos, sabem onde está...? Está lá na beira, na ponta do morro que estamos subindo... está lá, peguem-no, encontrem-no, busquem-no, consigam-no. O homem novo e a mulher nova está além de onde está além da fome, além da chuva, além dos borrachudos, além da solidão. Está ali, no esforço a mais. Está ali onde o homem  e a mulher normal começa a dar mais do que o homem e a mulher normal. Onde o homem e a mulher começa a dar mais que o comum dos homens e das mulheres. Quando começa a negar a si mesmo... Ali está o homem novo e a mulher nova. Então, se estão cansados, se estão arrebentados, esqueçam-se disso, subam o morro e quando chegarem lá terão um pedacinho do homem novo e da nova mulher (...) De modo que, se não estão em férias e se, de verdade, querem ser homens novos e mulheres novas, alcancem-no e alcancem-na...”. 

(Como sei pouco e sou pouco, faço o pouco que me cabe, me dando inteiro.)

Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando.

04 agosto, 2012

minha flor, minha cara:


Não sei se o mundo é bom mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou: Tem lugar pra mim?
Não sei se esse mundo é bom mas ele está melhor
Porque que você chegou e explicou o mundo pra mim.

e desistir, ainda que nao pareça, as vezes é um grande gesto de coragem.

04.


Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.

02 agosto, 2012



Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem.
É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente “ah!”, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Era só isso que eu queria da vida
Uma cerveja, uma ilusão atrevida
Que me dissesse uma verdade chinesa
Com uma intenção de um beijo doce na boca...

01 agosto, 2012


Os seus olhos são espelhos d'água,brilhando você prá qualquer um.
Por onde esse amor andava que não quis você de jeito algum? Ah que vontade de ter você. Que vontade de perguntar se ainda é cedo.                                             Hum! Que vontade de merecer um cantinho do seu olhar, mas tenho medo...
Cacique perdeu, mas lutou que eu vi.