24 agosto, 2012

E não sei o que dizer, Zézinho, não tô bem. Isso é uma coisa que eu posso dizer, tendo certeza dela. Mas é também uma coisa pela qual você não pode fazer
nada, e de pouco adianta eu dizer. Ô, Zé, ando tão desorientado e

me escondo, e não procuro ninguém, e fico mastigando a minha desorientação (...)
Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto. Leio o tempo todo. Sento no jardim.
Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Descobri John dos Passos, mas não é suficiente pra encher esse 
oco (...) Mas tomo copos de leite, durmo bastante, e repito sempre que, seja o que for, vou sair desta pelo menos mais sadiozinho. Deve ter algum processo em andamento dentro de mim, querendo explodir de alguma forma. Ou esse desgosto é já um jeito de ser? Se for assim, não quero acostumar. Se quatro anos de análise não deram jeito nele, quem dá? (...)
me sinto como uma coluna vertebral sem uma vértebra,
portanto insustentável. Daí vou pensando um pouco mais nisso e então me dói 
mais fundo, porque me parece irremediável, inconsertável(...)
Mas não sei se consigo me reduzir assim, a um simples
esquema ideológico. E mesmo que conseguisse: o que vem depois?
Gosto tanto de você. (...)
Mando pra você:
“É demais ter dois olhos. Só à noite, às vezes,
pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite
tornemos sempre a refazer a jornada que
penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro?"
(...)
E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bem vinda. 


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