30 abril, 2011

mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, entao eu tinha que continuar...
E quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e que se entregar é uma bobagem.
Já que voce nao está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim ...

27 abril, 2011

-

E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor (...)  E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. (...)
Já não é tempo de desesperos.

reage, companheira, reage.
Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais.
E como é normal acontecer, se num entardecer a dor te visitar
Vai ter sempre alguém pra socorrer, fazer o seu jantar, dormir no seu sofá...
- Ao contrario, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?
(...)

26 abril, 2011

 Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas já era muito tarde...
Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-la (...)

25 abril, 2011

És parte ainda do que me faz forte, pra ser honesta, só um pouquinho infeliz,
mas tudo bem. Tudo bem.
Te desejo um fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.

23 abril, 2011

Caio F.

Estou realmente cansado. Cansado e cansado de ser mar agitado, de ser tempestade… quero ser mar calmo. Preciso de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: “Calma, eu estou com você e vou te proteger! Nós vamos ser fortes juntos, juntos, juntos.” Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo. Confesso, confesso, confesso. Confesso que agora só espero você.

22 abril, 2011

Me pega e leva (...)
Andei fugindo mas estou aqui.  Derretida, sentimental. Deixar de amar nao é normal (...)
Abraço com força o meu camarada e fecho os olhos como se gritasse. Como se pudesse gritar.
Ah, eu queria ter um desses, pra colar algumas coisas das quais não queria que fossem embora, digo colar e não guardar. Como diz a Luma, guardar é esconder, esquecer, eu queria mesmo era colar na parede pra ficar olhando, pra não deixar ir embora, não deixar se apagar. -

Alvaro Campos.

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder (...)

Chega de me estraçalhar em guerras para as quais eu nunca tive armas. -

as vezes te odeio por quase um segundo:

Eu queria ver no escuro do mundo, onde esta o que você quer, pra me transformar no que te agrada, no que me faça ver.
Quais são as cores e as coisas pra te prender? Eu tive um sonho ruim e acordei chorando (...)
Será que você ainda pensa em mim? Será que você ainda pensa? (...)

21 abril, 2011


onde estava o que você queria?
Um dos momentos mais difíceis na vida é decidir se você deve desistir ou tentar mais uma vez.

É você quem me traz alegria, paz, esperança e fé.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança (...) 
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências (...)
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. 
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha (...)
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte (...)

20 abril, 2011

Despojado do que já não há, solto no vazio do que ainda não veio. Minha boca cantará cantos de alívio pelo que se foi, cantos de espera pelo que há de vir.
Você não sabe quanta coisa eu faria além do que já fiz.
Você não sabe até onde eu chegaria pra te fazer feliz.
Você não sabe quanta coisa eu faria por um sorriso seu.
Você não sabe até onde chegaria amor igual ao meu. 

14 abril, 2011

13 abril, 2011

no fim desses dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa, e passa a mão na minha cara, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu olho. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, e você me beija e você me aperta, e você me leva para Creta Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem (...)

m.

importa apenas o teu sorriso e nada mais.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.
- Então Charlie Brown, o que é amor pra você?
- Em 1987 meu pai tinha um carro azul
- Mas o que isso tem a ver com amor?
- Bom, acontece que todos os dias ele dava carona pra uma moça. Ele saía do carro, abria a porta pra ela, quando ela entrava ele fechava a porta, dava a volta pelo carro e quando ele ia abrir a porta pra entrar, ela apertava a tranca. Ela ficava fazendo caretas e os dois morriam de rir
...acho que isso é amor

11 abril, 2011

Às vezes o que parece um descaminho na verdade é um caminho inaparente que conduz a outro caminho melhor.
“O que tem de ser, tem muita força”. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde..."

Os Sobreviventes (Caio f.):

- A gente aqui, mastigando essa coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora, nem esquecer esse gosto azedo na boca. Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação Cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora o que faço? (...) Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca, me passa o cigarro, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, não estou bêbada nem louca, estou é lucida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, não se preocupe (...) Passa devagar a tua mão na minha cabeça, no meu coração, eu tive tanto amor um dia ...

queria que você soubesse
que não importa, não importa mesmo,
se amanhã ou depois for menos intenso,
for um pouco mais cansativo,
não pense hoje nas coisas de amanhã

mas se pensar,
pense em me ver como uma resposta
num grito de socorro,
pense em me ver como uma passagem
num pedido de sumiço,
pense em me ver como um abraço
num salto para o abismo.
Vale o olhar que paralisa enquanto o mundo gira para nos despertar.
- Ela parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém. 
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?

10 abril, 2011

Florbela Espanca:

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!

Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo.
'...carrego coisas pesadas e quase não mais flutuo. há tempos, navego sem encontrar portos pelo caminho. lugares onde se possa parar, descarregar as cargas amontoadas, atirar o que é sobra ao chão do cais, navego enquanto posso, sem conseguir me livrar da bagagem, das pedras dentro das malas, sabendo que a mudança foi com a embarcação e não com o mar. Navego, sabendo que afundar é questão de tempo..'

09 abril, 2011

“Tenho uma parte que acredita em finais felizes, em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha, metade auto-suficiente, mas, há muito, eu erro a mão, a dose, esqueço a receita do equilíbrio. Me perco. Há dias em que uso a metade que não poderia, dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria."
Jogue pro alto, se voltar é seu.

-

— Eu não te entendo.
— Você não me entende porquê você nos divide em dois: eu e você. Não existe divisão. Eu não sou só eu. Eu sou também você e todos os outros, e todas as coisas que eu vejo. Você não me entende porque você nunca me olhou. Olhe firme no meu olho, me encara fundo. A gente só consegue conhecer alguém ou alguma coisa quando olha para ela bem de frente, cara a cara. Me diz o que é que você está vendo no fundo das minhas pupilas?
— No fundo das tuas pupilas eu vejo meu próprio rosto.
— E no fundo das suas pupilas eu vejo o meu próprio rosto. Quando eu olho no seu olho eu sou você e você é eu. Se você tiver medo de mim é porque você tem medo de você. Me diga agora, outra vez: você tem medo de mim?
(Silêncio)

 Supere isso, e se não superar, supere o vício de falar a respeito.

07 abril, 2011


             
             Mas que seja bom o que vier, pra você, pra mim. -


Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir.

06 abril, 2011

(…) vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Mas isso nunca aconteceu.
"Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas agüenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, “hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu”). Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória. Vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara.  
olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o unico jeito de deixá-la pra trás é continuar andando." -

Pode ser que ele faça as mesmas coisas que você faz escondida sem deixar rastro nem pistas. Talvez, ele passa a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram teus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E, ainda assim, preferir o silêncio. Ele pode reler teus bilhetes, procurar o teu cheiro em outros cheiros. Não há escape. Talvez, ele perceba que você faz falta e diferença, de alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez, ele volte. Ou não.
Eu vou deixar pra lá, fingir que esqueci, agir como se não importasse. O que é verdadeiro, volta, e quem tem que ficar, fica. -

Frejat:

Você não quer ver nada além do seu umbigo, e eu quero ver o que há depois do perigo.
Você acha que ninguém sofre mais do que você, talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer.
Ando pelas ruas cheirando a fumaça dos motores, enquanto você fantasia suas dores de amores.
Você não quer ver nada além do seu mundinho, e eu prefiro escrever meu próprio caminho.
Você acha que ninguém sofre mais do que você, talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer.
Você sonha ser princesa em castelos fabulosos, enquanto eu vago na cidade entre inocentes e criminosos.
Fique com os seus bonsais, seus haicais, sua paz, suas flores, seu jardim de inverno...
Se isso é céu, eu prefiro o meu inferno.

Grey’s Anatomy:

E se algum dia você quiser se recuperar, há apenas uma coisa que pode ser dita: esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam e velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer..
Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: “Eu sobrevivi

05 abril, 2011

Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.
Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.

Amo vocês, seu filho,
Caio.

E para que tudo não doesse demais quando não era capaz de, apenas esperando, evitar o insuportável, fazia a si próprio perguntas como: se a vida é um circo, serei eu o palhaço?
- Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto -

04 abril, 2011

- Garçon, uma dose de amnésia e duas de desapego por favor..
- Vai uma de amor também?!
- Não, não. Deixa pra outro dia!
"O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida"
"Chorei três horas, depois dormi dois dias.Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total."

-

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.

Não conseguia compreender como conseguira penetrar naquilo sem ter consciência e sem o menor policiamento: logo eu, que confiava nos meus processos, e que dizia sempre saber de tudo quanto fazia ou dizia. A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentid
o. Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram. 
- mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto, nao que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto.- O que marcava e pesava mais era o intangível.

Mas amor, você sabe, amor não se pede...

03 abril, 2011

"- Qualquer dia faço uma loucura
- Faz nada, você está nessa marcação faz mais de dez anos. 
- Mais de dez anos... A gente se entrega nas menores coisas... "
"Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências"
'Eu quero estar amanhã ao seu lado quando você acordar.Eu quero estar amanhã sossegado e continuar a te amar. Eu quero estar sempre ao seu lado. Você me traz paz'
Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés delas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.) E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você — seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você (...)  O 
telefone toca e corta meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. (...)

02 abril, 2011

Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Aquele menino trazia na testa a marca inconfundível: pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar.
Essas são as escolhidas — as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá.
É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se... Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser.
- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.
(Silencio)

- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo nao existe
- Existe sim, e devora.
- Linhas paralelas se encontram no infinito
- O infinito é nunca
- Ou sempre
(Silencio)

Noel Rosa:

Quanto mais se tivesses valor.
Não teve e nem terás! Deus sabe o que faz (...)

Mas o mundo nos ensina a viver
Tudo isso com o tempo há de ter fim, porque mesmo tu tens que reconhecer que nunca se deve ser assim (...)