10 setembro, 2012
- Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo?
- A gente sente um pouco de medo mas não dói.
- A gente não morre?
- A gente morre um pouco em cada poço.
- E não dói?
- Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.
- A gente sente um pouco de medo mas não dói.
- A gente não morre?
- A gente morre um pouco em cada poço.
- E não dói?
- Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.
Caio, filho da Puta.
.. Que podia sentir, e que sentia enfim, agora que já não havia cheiros nem formas nem gostos nem ruídos — era o contato como da mão daquele homem que ficara comigo enquanto eu partia e tornava a partir sem volta e para sempre de mim. Foi se apagando, certa luz.
Até que meus dedos finalmente mortos e rígidos se desprendessem dos dedos vivos dele, e sem a mão e mais ninguém dentro da minha eu fosse chegando aos poucos mais perto, quase dentro deste outro lado, deste outro espaço, deste outro tempo onde estou agora. E não me reconheço, sem facas nem becos. Já não éramos três, nem dois, homens nem corpos. Eu era um só, depois eu era um eu sem eu.
Eu era nenhum: navio no ar, depois do aço.
Até que meus dedos finalmente mortos e rígidos se desprendessem dos dedos vivos dele, e sem a mão e mais ninguém dentro da minha eu fosse chegando aos poucos mais perto, quase dentro deste outro lado, deste outro espaço, deste outro tempo onde estou agora. E não me reconheço, sem facas nem becos. Já não éramos três, nem dois, homens nem corpos. Eu era um só, depois eu era um eu sem eu.
Eu era nenhum: navio no ar, depois do aço.
quantas vidas precisam ser vividas? quantas situações precisão acontecer? quanto se precisa sangrar pra entender que sua força é incapaz perante a da faca?
quantos gritos precisam ser dados até que alguem escute?
quantas palavras precisam ser ditas e desmentidas em atos seguintes?
"Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras ao vento.."
quantos ouvidos e memorias precisam ser marcadas até que o entendimento coincida com a aceitaçao?
Será que a quantidade de caminhos turbulentos é igual a quantidade de chegadas compensatórias?
Será que algum dia as tuas ideias corresponderão aos fatos?
quantos gritos precisam ser dados até que alguem escute?
quantas palavras precisam ser ditas e desmentidas em atos seguintes?
"Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras ao vento.."
quantos ouvidos e memorias precisam ser marcadas até que o entendimento coincida com a aceitaçao?
Será que a quantidade de caminhos turbulentos é igual a quantidade de chegadas compensatórias?
Será que algum dia as tuas ideias corresponderão aos fatos?
Me procuro lenta
Nos teus escuros.
Como te chamas, breu?
Tempo.
(Hilda Hilst: Da Morte, Odes Mínimas)
"No homem havia umidade quando estava seco, havia calor quando estava frio, no homem havia tudo o que precisava e um dia tivera e o que se fora para sempre e o que não voltaria nunca mais a ser.
(...)
Mas com o dia avançando, as sombras ampliavam a presença do homem pela casa inteira. Essa sombra se infiltrando devagar em cada quarto jogava no rosto de cada um tudo aquilo que não haviam sido, que não haviam feito, tudo aquilo que tinham apenas ameaçado ser."
Como te chamas, breu?
Tempo.
(Hilda Hilst: Da Morte, Odes Mínimas)
"No homem havia umidade quando estava seco, havia calor quando estava frio, no homem havia tudo o que precisava e um dia tivera e o que se fora para sempre e o que não voltaria nunca mais a ser.
(...)
Mas com o dia avançando, as sombras ampliavam a presença do homem pela casa inteira. Essa sombra se infiltrando devagar em cada quarto jogava no rosto de cada um tudo aquilo que não haviam sido, que não haviam feito, tudo aquilo que tinham apenas ameaçado ser."
07 setembro, 2012
Mário Quintana
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
- Martha Medeiros
05 setembro, 2012
02 setembro, 2012
É preciso cuidado com o arisco, senão ele foge. É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo. Cada movimento em direção a ele é tão absolutamente lento que o tempo fica meio abolido. Não há tempo. Um bicho arisco vive dentro de uma espécie de eternidade. Duma ilusão de eternidade. Onde ele pode ficar parado para sempre, mastigando o eterno. Para não assustá-lo, para tê-lo dentro dos seus dedos quando eles finalmente se fecharem, você também precisa estar dentro dessa ilusão do eterno.
— Caio Fernando Abreu
— Caio Fernando Abreu
01 setembro, 2012
31 agosto, 2012
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver.
Se é assim quero sim! Acho que vim pra te ver.
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver.
Se é assim quero sim! Acho que vim pra te ver.
25 agosto, 2012
“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista, elitista, capitalista. Só queria ser feliz, cara.”
Você não me ouve nem vê, e se ouvisse e visse não compreenderia quando
eu abrir os braços para Ela e saudar, amável e desesperado como quem dá
boas-vindas ao terror consentido: voragem, bem-vinda.
Voragem, vórtice, vertigem: ego. Farpas e trapos. Quero um solo de guitarra rasgando a madrugada. Te espero aqui onde estou, abismo, no centro do furacão.
Voragem, vórtice, vertigem: ego. Farpas e trapos. Quero um solo de guitarra rasgando a madrugada. Te espero aqui onde estou, abismo, no centro do furacão.
A solidão brinca com o tempo.
As horas passam se arrastando lentamente, tanto no relógio quanto na alma.
E as piscadas de olho, inevitáveis aos seres humanos, vão se tornando armadilhas das quais somente a eterna vigilância pode evitar.
Nelas, é como se o subconsciente forjasse as cenas que o consciente já não se permite mais.
Uma piscada e, como magica, as coisas desejas nos cantos desejados.
Descuido.
Uma outra piscada e pronto, cores mortas, carnes frias. A realidade nunca pele licença, ela invade porta à dentro..
É preciso está atento, meu bem. Sempre atento.
Mas você me pergunta como. Como enxergar ao mesmo tempo, com duas visões altamente distintas.
E eu te respondo com outra pergunta: O que é mais forte? O natural ou construído?
Nunca soube.
E de que adianta saber? de que te adianta ser ou ter? No final das piscadas, dos sonhos e das histórias doces, cabe a mim mesma decidir que parte amputar.
Autonomia geralmente não há. Nem pra mim, nem pra ti e nem pro tempo.
As horas passam se arrastando lentamente, tanto no relógio quanto na alma.
E as piscadas de olho, inevitáveis aos seres humanos, vão se tornando armadilhas das quais somente a eterna vigilância pode evitar.
Nelas, é como se o subconsciente forjasse as cenas que o consciente já não se permite mais.
Uma piscada e, como magica, as coisas desejas nos cantos desejados.
Descuido.
Uma outra piscada e pronto, cores mortas, carnes frias. A realidade nunca pele licença, ela invade porta à dentro..
É preciso está atento, meu bem. Sempre atento.
Mas você me pergunta como. Como enxergar ao mesmo tempo, com duas visões altamente distintas.
E eu te respondo com outra pergunta: O que é mais forte? O natural ou construído?
Nunca soube.
E de que adianta saber? de que te adianta ser ou ter? No final das piscadas, dos sonhos e das histórias doces, cabe a mim mesma decidir que parte amputar.
Autonomia geralmente não há. Nem pra mim, nem pra ti e nem pro tempo.
24 agosto, 2012
e peço: por favor, me socorre, me socorre que hoje estou sentido e
português, lusitano e melancólico. Me ajuda que hoje tenho certeza
absoluta que já fui Pessoa ou Virginia Woolf em outras vidas, e filósofo
em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros,
pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para
baixo da quaresmeira em flor que eu quero encostar em seu tronco o lótus
de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e
respirar aliviado de por um instante não ser mais eu, que hoje e não me
suporto nem me perdôo de ser como sou e não ter solução.
"gostar” sendo aqui mera maneira de dizer: ciclo seco não gosta nem
desgosta de nada, só acha árido, até beijo em ciclo seco tem gosto de
areia..
Ciclo seco é chato, sim. E implicante. Isso que por falta de espaço, hoje nem entrei nos méritos do tal “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Reflitam no absurdo. Se não molhar um pouco este meu ciclo seco, para desgosto geral volto ao tema. Mas há de chover. Em abril.
Ciclo seco é chato, sim. E implicante. Isso que por falta de espaço, hoje nem entrei nos méritos do tal “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Reflitam no absurdo. Se não molhar um pouco este meu ciclo seco, para desgosto geral volto ao tema. Mas há de chover. Em abril.
mantra:
Agora não dá mesmo para ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque para viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado para trás, cai. Dói, eu sei como dói. Mas passa. Está vendo a felicidade ali na frente? Não, você não está vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la para trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.
Caio Fernando Abreu
e ele calmamente repete:
- Nunca, jamais diga o que sente. Por mais que te doa, por mais que te faça feliz.
Quando sentir algo muito forte, peça um drink.
- Garçom, uma vodka dupla e sem gelo.
Quando sentir algo muito forte, peça um drink.
- Garçom, uma vodka dupla e sem gelo.
E não sei o que dizer, Zézinho, não tô bem. Isso é uma coisa que eu posso dizer, tendo certeza dela. Mas é também uma coisa pela qual você não pode fazer
nada, e de pouco adianta eu dizer. Ô, Zé, ando tão desorientado e
me escondo, e não procuro ninguém, e fico mastigando a minha desorientação (...)
“É demais ter dois olhos. Só à noite, às vezes,
pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite
tornemos sempre a refazer a jornada que
nada, e de pouco adianta eu dizer. Ô, Zé, ando tão desorientado e
me escondo, e não procuro ninguém, e fico mastigando a minha desorientação (...)
Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto. Leio o tempo todo. Sento no jardim.
Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Descobri John dos Passos, mas não é suficiente pra encher esse oco (...) Mas tomo copos de leite, durmo bastante, e repito sempre que, seja o que for, vou sair desta pelo menos mais sadiozinho. Deve ter algum processo em andamento dentro de mim, querendo explodir de alguma forma. Ou esse desgosto é já um jeito de ser? Se for assim, não quero acostumar. Se quatro anos de análise não deram jeito nele, quem dá? (...)
Ouço música. Tento escrever, mas não sei se quero ou se preciso, e não consigo. Descobri John dos Passos, mas não é suficiente pra encher esse oco (...) Mas tomo copos de leite, durmo bastante, e repito sempre que, seja o que for, vou sair desta pelo menos mais sadiozinho. Deve ter algum processo em andamento dentro de mim, querendo explodir de alguma forma. Ou esse desgosto é já um jeito de ser? Se for assim, não quero acostumar. Se quatro anos de análise não deram jeito nele, quem dá? (...)
me sinto como uma coluna vertebral sem uma vértebra,
portanto insustentável. Daí vou pensando um pouco mais nisso e então me dói mais fundo, porque me parece irremediável, inconsertável(...)
portanto insustentável. Daí vou pensando um pouco mais nisso e então me dói mais fundo, porque me parece irremediável, inconsertável(...)
Mas não sei se consigo me reduzir assim, a um simples
esquema ideológico. E mesmo que conseguisse: o que vem depois?
Gosto tanto de você. (...)
Mando pra você:esquema ideológico. E mesmo que conseguisse: o que vem depois?
Gosto tanto de você. (...)
“É demais ter dois olhos. Só à noite, às vezes,
pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite
tornemos sempre a refazer a jornada que
penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro?"
(...)
E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bem vinda.
- O sol já foi embora.
- A estrada escureceu.
- Mas navegamos.
(...)
- Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
- Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
- Vamos nos ver?
- No teu chá. No meu chá.
(...)
- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.
- A estrada escureceu.
- Mas navegamos.
(...)
- Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
- Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
- Vamos nos ver?
- No teu chá. No meu chá.
(...)
- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.
23 agosto, 2012
22 agosto, 2012
Nem tudo lhe cai bem, é o risco que se assumi. O bom é não iludir ninguém (...)
Um dia eu volto pra fazer só a sua vontade, mas se eu nao puder fazer de você a pessoa mais feliz, eu chego o mais perto disso possível.
Todos os inconvenientes ao nosso favor e diferenças sim, mas nunca maiores do que o nosso valor.
Um dia eu volto pra fazer só a sua vontade, mas se eu nao puder fazer de você a pessoa mais feliz, eu chego o mais perto disso possível.
Todos os inconvenientes ao nosso favor e diferenças sim, mas nunca maiores do que o nosso valor.
19 agosto, 2012
17 agosto, 2012
"Cença aqui patrão, eu cresci no mundão, onde o filho chora e a mãe não vê
E covarde são, quem tem tudo de bom, e fornece o mal, pra favela morrer
Uns acham que são, mas nunca vão ser ...
Feio é arrastar e nem perceber!"
"Acostumado com sucrilhos no prato, né, moleque?
Enquanto o colarinho branco dá o golpe no Estado"
"Se é pra paz a naçao já está armada. De consciência a alma já tá elevada.
Nao baixe a guarda, a luta nao acabou."
"Pode colar, mas sem arrastar. Se arrastar, favela vai cobrar ... "
"Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz. Sou assim e sou feliz, Índio, caboclo, cafuso, criolo! Sou brasileiro."
15 agosto, 2012
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor; apenas porque te estendo a minha mão.
11 agosto, 2012
E seria possível voltar a um estágio anterior, já disperso em inúmeras passagens através de outros e outros estágios?
Pois se já experimentara a maldade, a devassidão, a frieza, o cálculo, o vício, o cinismo, a agressão e experimentara não como formas de ser, nem como opções. Experimentá-los tinha sido simplesmente ser o que o caminho exigia que se fosse.
Pois se já experimentara a maldade, a devassidão, a frieza, o cálculo, o vício, o cinismo, a agressão e experimentara não como formas de ser, nem como opções. Experimentá-los tinha sido simplesmente ser o que o caminho exigia que se fosse.
10 agosto, 2012
09 agosto, 2012
Martha.
Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam, de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e, sim, para disfarçá-la, sufocá-la. Ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
07 agosto, 2012
- “Companheiros, vocês ouviram falar do homem novo e da mulher nova?”
- O homem novo e a mulher nova esta no futuro, pois é aquele que queremos formar com a nova sociedade, quando triunfar a revolução...”.
E ficou olhando para nós...
- “Não, irmãos, sabem onde está...? Está lá na beira, na ponta do morro que estamos subindo... está lá, peguem-no, encontrem-no, busquem-no, consigam-no. O homem novo e a mulher nova está além de onde está além da fome, além da chuva, além dos borrachudos, além da solidão. Está ali, no esforço a mais. Está ali onde o homem e a mulher normal começa a dar mais do que o homem e a mulher normal. Onde o homem e a mulher começa a dar mais que o comum dos homens e das mulheres. Quando começa a negar a si mesmo... Ali está o homem novo e a mulher nova. Então, se estão cansados, se estão arrebentados, esqueçam-se disso, subam o morro e quando chegarem lá terão um pedacinho do homem novo e da nova mulher (...) De modo que, se não estão em férias e se, de verdade, querem ser homens novos e mulheres novas, alcancem-no e alcancem-na...”.
(Como sei pouco e sou pouco, faço o pouco que me cabe, me dando inteiro.)
- Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando.
- O homem novo e a mulher nova esta no futuro, pois é aquele que queremos formar com a nova sociedade, quando triunfar a revolução...”.
E ficou olhando para nós...
- “Não, irmãos, sabem onde está...? Está lá na beira, na ponta do morro que estamos subindo... está lá, peguem-no, encontrem-no, busquem-no, consigam-no. O homem novo e a mulher nova está além de onde está além da fome, além da chuva, além dos borrachudos, além da solidão. Está ali, no esforço a mais. Está ali onde o homem e a mulher normal começa a dar mais do que o homem e a mulher normal. Onde o homem e a mulher começa a dar mais que o comum dos homens e das mulheres. Quando começa a negar a si mesmo... Ali está o homem novo e a mulher nova. Então, se estão cansados, se estão arrebentados, esqueçam-se disso, subam o morro e quando chegarem lá terão um pedacinho do homem novo e da nova mulher (...) De modo que, se não estão em férias e se, de verdade, querem ser homens novos e mulheres novas, alcancem-no e alcancem-na...”.
(Como sei pouco e sou pouco, faço o pouco que me cabe, me dando inteiro.)
- Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando.
04 agosto, 2012
minha flor, minha cara:
Não sei se o mundo é bom mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou: Tem lugar pra mim?
Não sei se esse mundo é bom mas ele está melhor
Porque que você chegou e explicou o mundo pra mim.
desde que você chegou
E perguntou: Tem lugar pra mim?
Não sei se esse mundo é bom mas ele está melhor
Porque que você chegou e explicou o mundo pra mim.
04.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
02 agosto, 2012
Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem.
É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente “ah!”, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
01 agosto, 2012
30 julho, 2012
29 julho, 2012
28 julho, 2012
Martha M.
... Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.
No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).
Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.
No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.
Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.
Hoje pensei sério: se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder. Quero tudo. Mas esse “tudo” é tão grande, tão vago, que me sinto estonteado. É preciso ir limitando meu sonho, apagando a linha supérflua, corrigindo as arestas, até restar somente o centro, o âmago, a essência. Mas qual será esse centro, meu Deus, que não encontro?
25 julho, 2012
com a companhia de um cigarro:
Sei, sim. Não é de repente, é mais aos pouquinhos que acontece. Difícil explicar, mas vai dando uma coisa de você não ver mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão. Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático e, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo – bem, para mim é porque está na hora de dar o fora. Aí a gente muda. Se não dá para mudar de cidade, muda de casa, muda de rua, de bairro (cá entre nós: massa mesmo seria poder mudar de planeta). Não há nada mais estimulante do que ver ruas e pessoas pela primeira vez. Você tem que fazer um superexercício para conseguir descobrir os jeitos particulares delas se comunicarem – sim, porque tudo isso tem um jeitinho particular. Você é novo. A maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.
23 julho, 2012
Passou-se muito tempo. Vai amanhecer. O frio aumentou. O bar está meio vazio, quase fechando. Debruçado na caixa, o dono dorme. Gastei quase todas as minhas fichas: tudo é blues, azul e dor mansinha. Só me resta uma, que vou jogar certeiro em Tom Waits. Me preparo. Então - enquanto os garçons amontoam cadeiras em cima das mesas vazias, um pouco irritados comigo, que a tudo invento e alimento, e com esses dois caras estranhos, parecem dois veados de mãos dadas, perdidamente apaixonados por alguém que não é o outro, mas poderia ser, se ousassem tanto e não tivessem que partir - o homem segura com mais força nas duas mãos do rapaz mais triste do mundo. As quatro mãos se apertam, se aquecem, se misturam, se confortam. Não negro monstro marinho viscoso, vômito na manhã. Mas sim branca estrela do mar. Pentáculo, madrepérola. Ostra entreaberta exibindo a negra pérola arrancada da noite e da doença, puro blues. E diz, o homem diz:
- Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num sZ, esse é o eterno.
- Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num sZ, esse é o eterno.
19 julho, 2012
17 julho, 2012
15 julho, 2012
Eu cansei de ser assim. Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir?
A vida vai seguir. Ninguém vai reparar, aqui neste lugar
Eu acho que acabou, mas vou cantar
Pra não cair fingindo ser alguém que vive assim de bem
Se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir?
A vida vai seguir. Ninguém vai reparar, aqui neste lugar
Eu acho que acabou, mas vou cantar
Pra não cair fingindo ser alguém que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi, só resta eu me entregar
Cansei de procurar o pouco que sobrou
Eu tinha algum amor. Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó e a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia manda essa cavalaria
Que hoje a fé me abandonou
Cansei de procurar o pouco que sobrou
Eu tinha algum amor. Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó e a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia manda essa cavalaria
Que hoje a fé me abandonou
12 julho, 2012
11 julho, 2012
Mas não é verdade, Hilda, não é verdade que as pessoas se repitam. O que se repetem são as situações, inúmeras vezes — e você sabe que qualquer situação que nos acontece é por nossa culpa. Principalmente quando ela se repete muitas vezes. Tudo o que acontece à gente é uma mera conseqüência daquilo que se fez.
"Tu poderias me dizer como posso sair daqui? - perguntou Alice.
Isso depende do lugar pra onde queres ir - disse o Gato.
Ora, pra mim tanto faz pra onde ir... - disse Alice.
Então, também tanto faz como sair daqui - disse o Gato.
oh, e chegarás com certeza, se andares o tempo suficiente. -Afirmou o Gato."
Isso depende do lugar pra onde queres ir - disse o Gato.
Ora, pra mim tanto faz pra onde ir... - disse Alice.
Então, também tanto faz como sair daqui - disse o Gato.
oh, e chegarás com certeza, se andares o tempo suficiente. -Afirmou o Gato."
08 julho, 2012
A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido
'E minha mão esquerda tocava uma ausência sobre a cama.'
06 julho, 2012
05 julho, 2012
04 julho, 2012
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,Ou nada sei
(...)
Penso que cumprir a vida
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,Ou nada sei
(...)
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
(...)
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou.
Estrada eu sou.
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
(...)
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou.
Estrada eu sou.
03 julho, 2012
01 julho, 2012
30 junho, 2012
29 junho, 2012
o imperador:
O conselho emitido pelo Tarot vem através da imagem do arcano IV, chamado “O Imperador”, cuja imagem nos revela uma figura masculina solidamente colocada, irradiando poder e autoridade. O pedido do arcano IV é o da importância de reconhecer a própria força e não depender demais de ninguém. Sempre que dependemos do outro, o outro pode falhar conosco eventualmente e qualquer felicidade excessivamente buscada fora de nós é absolutamente temporária. Procure, neste momento, cultivar a referência do seu próprio poder pessoal e não se deixe levar demais pelos conselhos alheios. Reconheça, em si, a autoridade para comandar sua própria vida.
Conselho: Seja mais independente neste momento.
Conselho: Seja mais independente neste momento.
27 junho, 2012
“Ninguém sabe direito o que é felicidade, mas, definitivamente, não é acomodação.
Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático. Muito seguro, mas que aborrecimento. É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir alguma coisa, nem que seja medo.”
- Martha Medeiros.
Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático. Muito seguro, mas que aborrecimento. É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir alguma coisa, nem que seja medo.”
- Martha Medeiros.
Não consigo pertencer ou me adaptar. Falha minha. Meu único planejamento é não planejar. Porque o momento em que eu sei exatamente o que fazer ou onde ir é o mesmo momento em que tento, desesperadamante, fazer o oposto. Talvez eu apenas goste de contrariar e negar o que dizem ser certo. Talvez seja coisa de menina mimada (...)
Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece.
26 junho, 2012
Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita. Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.
Não há uma verdade única. Há uma verdade por dia, ou pior ainda, mais complicado: uma verdade por hora, a vezes até mil verdades num minuto. Quando a gente hesita em fazer e não fazer determinada coisa, esse debate no meio de conceitos encravados no cérebro, no meio de idéias próprias e alheias, recusa-se aceitações — labirintos de verdades que não mostram as faces mesmo depois do ato feito.
25 junho, 2012
14 junho, 2012
10 junho, 2012
Pois repito, aquilo que eu supunha fosse o caminho do inferno está juncado de anjos. Aquilo que suja treva parecia guarda seu fio de luz. Nesse fio estreito, esticado feito corda bamba, nos equilibramos todos. Sombrinha erguida bem alto, pé ante pé, bailarinos destemidos do fim deste milênio pairando sobre o abismo.
Lá embaixo, uma rede de asas ampara nossa queda.
Lá embaixo, uma rede de asas ampara nossa queda.
09 junho, 2012
E há tempos
Nem os santos têm ao certo a medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços a quem procura
Abrigo e proteção...
Nem os santos têm ao certo a medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços a quem procura
Abrigo e proteção...
Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa...
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa...
E outra coisa – não se esforce. Pelo menos, não tanto. Não fique ai remando contra a maré, dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir além. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais, que tenha argumentos melhores.
mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer,
03 junho, 2012
Seria bonito se, quando eu pensasse em parar, o telefone tocasse. Então uma voz que eu não
ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como
poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falasse meu nome, uma voz quente
repetisse que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que
queria voltar.
Seria bonito, e coisas bonitas não acontessem mais.
Sri Lanka, quem sabe? ela me pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável ela continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade?
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